Espero que curtam e procurem entender todas as metáforas(que não são poucas) sobre vida, religião e relacionamentos que apliquei.
A Jornada Gabriel Andrade Jr.
Duas crianças se encontram no começo de suas vidas. Sem nome, lembranças ou experiências. Andam juntas com passos cautelosos, porém, um tanto despreocupados quanto ao rumo desses. Se tornaram amigos e ganharam nomes: César e Paulo.
Duas crianças se encontram no começo de suas vidas. Sem nome, lembranças ou experiências. Andam juntas com passos cautelosos, porém, um tanto despreocupados quanto ao rumo desses. Se tornaram amigos e ganharam nomes: César e Paulo.
Em um momento do caminho seus pais lhe deram as mãos e
passaram a guiar seus passos, e, por um momento, eles perderam seus
nomes, que só voltavam a ser pronunciados quando eles se
encontravam. Na ausência de seus pais eles podiam ser César e Paulo
novamente. Os laços se estreitam e viram grandes amigos, constroem
sonhos e planejam aventuras. O pai de César ainda o carrega pela
mão sempre de volta para casa. Na adolescência, logo após terminar
o colégio eles se separam novamente. Paulo muda para outra cidade,
ia estudar filosofia, e César continua a trilhar o caminho ao lado
de seus pais.
Os dois amigos se re-encontram na metade da jornada de suas vidas após muitos anos.
Eles relembraram seus nomes. Um era César, que agora,
usava roupas muito bonitas, um terno, gravata, sapatos de couro caros e um
relógio de ouro, no entanto, trazia consigo uma imensa mochila que afetava sua postura. Suas costas pesavam muito, seus
joelhos eram curvos e muito machucados, César parecia cansado e meio
envelhecido e de aspecto áspero, mesmo depois de se alegrar ao ver o
amigo, ainda transpirava rispidez.
Em contra ponto, estava Paulo,
usando roupas comuns, uma calça jeans, uma camiseta colorida, um
tênis confortável e um boné engraçado. Sua postura era ereta, com
um aspecto saudável e jovial. Não carregava nada consigo.
Frente a frente, saúdam um ao outro com sorriso no rosto e apertam as
mãos.
César: - Como vai amigo?
Paulo: - Muito bem! E você?
Tão bem vestido, parece que se deu muito bem na vida hein?
César:
- Sim, Graças a Deus! Sou “um” dos líderes de minha comunidade,
por isso me visto tão bem, mesmo estando com muito calor, minha
aparência é fundamental para os membros de minha congregação.
Esse terno foi pago pelos que me seguem e os sapatos foi minha esposa
quem deu, são um pouco apertados e desconfortáveis admito, mas são
de couro legítimo e a última moda. Este relógio de ouro foi eu
mesmo quem comprou, custou muito mais que todo o resto e as vezes
atrasa, mas eu nem vejo as horas por ele mesmo. Também não foi por isso que
o comprei. E você? O que tens feito da vida?
Paulo: - Eu
terminei minha pós graduação, trabalho no emprego que sempre quis
e tenho um escritório na cidade. Eu não preciso me vestir como
você, visto o que minha consciência manda, meus sapatos são leves
e confortáveis e me ajudaram a trilhar meu caminho, foi presente do
meu pai, minha calça jeans foi barata mas é leve e me sustenta
tanto no frio como no calor, foi uma escolha de minha mulher, minha
camiseta foi eu mesmo quem escolhi, ela retrata um pouco de minha
personalidade e gostos, o boné engraçado foi um presente de "dia dos
pais" que meu filho comprou. Não combina muito comigo, acho um pouco
extravagante e infantil, mas me sinto bem com ele.
Você leva
bastante coisa nessa mochila hein?
César: - Sim, a maioria
são problemas pra resolver e dívidas acumuladas e atrasadas. Como
estou distante de casa também preciso de muitos equipamentos de
sobrevivência, alguns eu nem uso, mas gosto de te-los por perto. O
problema é que tudo isso pesa muito, e, embora eu não reclame com
frequência, dificulta o meu caminhar, pois meus joelhos andam
doloridos e machucados e não é de hoje, já é uma doença antiga.
É que eu sempre agarrava a mão do meu pai pra caminhar. Cai
muito de joelhos nessa época e demorei muito pra aprender a caminhar
sozinho com minha própria orientação, mas consegui, depois, quando
era adolescente, passei por problemas dos quais não estava preparado
pra enfrentar e me ensinaram que eu deveria me sacrificar a Deus de
joelhos em oração para que ele pudesse me ouvir e ver minha dor,
isso me ajudou muito, mas hoje meus joelhos estão comprometidos e
minha coluna dói. Você não parece ter esse problema.
Paulo:
- Pois é, desde cedo meu pai me ensinou que eu deveria aprender a
andar sozinho. Rastejei um pouco e fiz alguns calos nas mãos, no
entanto, rapidamente e com minha força e habilidade, comecei os
primeiros passos. Hoje ando com desenvoltura sem esquecer que sou
capaz de, com meu próprio empenho, vencer as dificuldades da vida. Os calos nas mãos nunca foram um problema, na verdade, eles muito me favoreceram quando iniciei minha vida profissional.
Ao meu Deus não peço nada, só agradeço, pois já tenho tudo
que preciso em minha jornada. Minha casa e pessoas que amo estão
sempre próximos a min, não tenho dividas para pagar e resolvo todos os problemas que aparecem sem adiar, pois meu tempo é precioso e
procuro administra-lo o melhor possível e nas coisas que me trazem
reflexão e aprendizado. Meus joelhos estão sadios, pois o meu Deus não precisa de sacrifícios para me ouvir, atender ou mesmo me ver. Pois não há
sacrifício que me torne mais digno, nem pecado que me separe de seu
amor. Não carrego nada comigo além de um celular com o contato de
meus amigos e família e uma carteira com meus documentos e
provisões.
César: - A conversa está boa mas preciso ir.
Minha agenda está cheia. Como servo na obra de Deus tenho muitos
lugares pra visitar, compromissos e eventos a realizar. Talvez
possamos continuar essa conversa depois.
Paulo: - Claro que
sim. Minha agenda está sempre livre. Só uma pergunta meu amigo.
Você é feliz?
César: - Sim! Sou feliz sim, pois tenho
prosperado. Eu tenho muito dinheiro, casa, carro, família, uma
igreja cheia de membros, pois essa é a obra do cristão. E é claro
que sofro muitas provações, coisas do inimigo sabe? Mas o 'Senhor é
meu Pastor e nada me faltará', O mar vai se abrir e as bençãos vão
cair do céu e os que perseguem vão ser perseguidos e eu serei
exaltado no final. Mas e você? É Feliz?
Paulo: - Sim. Pois
levo minha consciência limpa e estou sempre ao lado dos que me amam
e disposto a amar os que não se agradam de min. Meu trabalho é
gratificante, pois eu conquistei com meu esforço e dedicação, além
do mais, o meu Deus é leve comigo e não exige nada de min, apenas
que eu viva dignamente. Ele me ensinou que a única obra que está em
minhas mãos para fazer, é a obra de minha vida, a construção de
meu caráter em uma vida sensata, respeitando os princípios do amor
e não da vaidade, da simplicidade e não da soberba, da verdade e
não do engano, da conquista da dignidade ao invés do ócio e
espera, do servir ao outro e não do alienar.
Quando tudo isso é
natural pra você então a jornada é boa, o combate é bom e a vida
é proveitosa. Pois, por mais que espinhento, difícil, doloroso ou
cruel seja a jornada, eu posso seu feliz, pois a trilhei com a força
dos meus pés e com o meu entendimento e esforço, tendo muito do que
me orgulhar, pois o meu exemplo é maior legado que deixo para os
meus, logo há muito que agradecer e pouco por penar, pois o Senhor é
meu Pastor, mesmo que tudo venha a me faltar.
E continuaram a
caminhar em rumos diferentes, porém César, mesmo atrasado em seus
compromissos, parou um pouco pra pensar. Mas a mochila pesava muito
nas costas e ele não tinha nem onde sentar, tampouco, tempo pra
descansar, resolveu continuar, depois, se tivesse tempo, faria uma
reflexão sobre a conversa com o amigo. Esse tempo nunca chegou, pois
isso não era uma prioridade para César e como considerava Paulo um
tolo, mesmo que ele tivesse dito a maior verdade do mundo, César não
levaria a sério e não daria importância, pois essa verdade poderia
obriga-lo a refazer parte de sua jornada e o tiraria do lugar que
conseguiu chegar, afastando as vantagens que conseguira depois de
muito tempo.
Anos se passam. A mochila de César pesava tanto que
ele não pode mais caminhar sem deixa-la cair. Ele então a
acorrentou ao seu corpo e se ela caísse ele cairia também. Seu amor
e envolvimento pela mochila era cada vez maior e esquecera de Paulo e
de muitas outras coisas que lhe era familiar. Paulo nunca mais viu
César, embora até o tenha procurado, mas César era um homem
importante e não tinha mais prazer da companhia de pessoas comuns.
No final, Paulo encontrou César, mas nem o reconheceu, sua
mochila era tão grande que ele só andava curvado, rastejando, lento
e olhando para o chão. César nunca mais conseguiu ver Paulo, nem
ouviu sua voz. Foi última vez que se cruzaram.
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